"Chega mais perto e contempla as palavras, cada uma tem mil faces secretas.”

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Observatório

São seis da tarde. Estou em meu observatório a procura de algo que nunca achei, a espera de alguém que nunca chegou. Vejo a vida acontecer nas brincadeiras das crianças, nas passadas largas das mulheres com latas d’água na cabeça, nas conversas das pessoas na ladeira, nas brigas dos vizinhos, nas vidas e mortes anunciadas, no barulho das sirenes, nas chuvas que teimam nos desabrigar. Tenho uma vista privilegiada da janela do meu barraco. Observo o movimento do beco. Homens e meninos se amontoam em um canto, todos em alerta, exibem suas pistolas, fuzis, metralhadoras e o poder que elas exercem. Como se fossem fogos de artifício, as balas pipocam e pintam o céu. É o aviso. Gritaria, correria, desespero, tomam conta da favela. Pessoas sobem ou descem o morro freneticamente, procuram refúgio, fecham portas e janelas, apagam luzes. Faço o mesmo. Tranco o meu observatório, apago a luz e corro para embaixo da mesa. A policia chegou.

3 comentários:

  1. Uma leitura bem fiel, bem real.

    Interessante também que não existem muitas favelas de morros, nem esse excesso de homens expondo armas aqui em Fortaleza. Logo, seu texto foi baseado nas favelas do Rio mesmo. E o que é melhor, sem nunca ter ido lá! Esse é o poder da arte, ir aonde não se pode ir.

    beijos

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  2. Bom,realmente existe isso mesmo, mas tbm num precisa ser a polícia que chegou kkkkkk pode ser o morro sendo invadido por outros bandidos querendo tomar a boca, agora a mulher com a lata na cabeça...powww amiga ai tu me quebra num é bem assim né kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk mas ficou ótimoo..... adoreiiiiiiii estava mesmo inspirada na aventuras de Sabry...
    bjssss

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  3. eita, o texto mudou bruscamente da metade pro final! hehe... uma surpresa interessante.

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